Archive for the ‘VIRTUDES’ Category

O que Dostoiévski diria sobre as exposições “Queermuseu” e “La bête”

24 de outubro de 2017

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As recentes polêmicas relativas ao cancelamento da exposição “Queermuseu” pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, e a performance “La bête”, no MAM de São Paulo, onde houve exposição de crianças a cenas de pedofilia e zoofilia, no primeiro, e contato físico com um homem nu, no segundo, geraram inúmeros debates sobre a criminalização da arte.

Conforme noticiou O Globo, “Como parte da campanha 342 Artes, artistas brasileiros se uniram para gravar vídeos contra a criminalização da arte. Entre os que participaram, estão a atriz Fernanda Montenegro. ‘Tudo é cultura, inclusive a cultura de repressão. Mas só há um tipo de cultura que realmente constrói um país: a cultura da liberdade’, diz essa. A campanha também conta com Caetano Veloso, Marisa Monte, Cissa Guimarães, Adriana Varejão, Zezé Polessa, Antonio Calloni, Vik Muniz, Marcos Caruso, Alinne Moraes, Ernesto Neto, Luiz Zerbini”.

Para os artistas mencionados, trata-se de um debate entre “conservadores” e “liberais”  ou seja, entre pessoas retrógradas e ultrapassadas, que resistem aos “novos tempos” e a “nova mentalidade”. Por outro lado, o liberal é alguém “prafrentex” que desbarata tabus em prol do progresso da humanidade. A arte seria um âmbito ilimitado de expressão, onde “tudo é permitido”, pelo simples fato de ser uma expressão artística.

Ocorre que, conscientes ou não, esses artistas, e todos os que propugnam uma arte sem limites, ocultam um propósito maior: a reviravolta nos costumes e valores da sociedade. Não é mera coincidência que muitos desses artistas foram, nos anos 60, arautos do “é proibido proibir”, e propugnavam uma completa liberação dos costumes.

Na obra Os Demônios (1872), Dostoiévski, alerta para inúmeros males que estavam acontecendo na Rússia, indicando o seu diagnóstico: são fruto da implantação do ideário socialista e niilista.  Em Os Demônios, o gênio de Dostoiévski profetizou, com quarenta e cinco anos de antecedência, a revolução que viria ocorrer em 1917.

Os demônios de Dostoiévski são, antes de mais, niilistas.  Tem como propósito a total aniquilação da civilização ocidental, fundamentada, essencialmente, na filosofia grega, no direito romano e na religião judaico-cristã. Cria-se, assim,  o ambiente propício para a implantação da revolução proletária, o Éden sem Deus. A total perversão da moral, o desprezo à vida, dom mais sagrado dos homens, devem ser estimulados, pois são imprescindíveis para a conquista do poder político.

Mas é na degradação e perversão sexual das crianças que Dostoiévski indica como um dos sinais mais terríveis dessa mentalidade.

A absoluta relativização moral, além do tédio que caracteriza Stravroguine, um dos demônios de Dostoiévski,  leva-o a abusar sexualmente de Matriocha, uma menina de doze anos.  “Diante de mim vi Matriocha emagrecida, com os olhos febris; abanando a cabeça, ameaçava-me com o pequenino punho. Era lamentável o desespero duma criaturinha impotente, inteligência ainda informe, e que me ameaçava (com quê? que me poderia fazer?), mas que decerto só se acusava a si própria. Não lamento o meu crime”.  Matriocha, de “inteligência ainda informe”, acaba por enforcar-se, culpando-se a si mesma. Enquanto delirava de febre, dizia: “Matei Deus”!

Por trás da expressão ilimitada da arte a que expomos as crianças inicia-se ao envenenamento gradual de toda ideia de belo, bom e verdadeiro (os  gregos consideravam inseparáveis o belo do bem, o que sintetizavam pela palavra “Kalokagathia” [καλοκαγαθία], conceito grego derivado da expressão kalos kai agathos [καλός καi αγαθός]).

Ao final, ébrias, seriam capazes de assassinar até Deus com as próprias mãos.

Por que tratamos mal “os nossos”?

24 de maio de 2015

huge.102.512161Por Pedro Simas de Oliveira

Há um comportamento um tanto estranho que todos nós já adotamos alguma vez em nossas vidas, ou, ao menos, vimos alguém adotá-lo. Trata-se desse intrigante modo de agir em que se trata menos bem as pessoas mais próximas, nossos familiares sobretudo, do que outras pessoas menos importantes, cujos laços conosco são mais superficiais. Todos já o fizeram ou fazem, até mesmo aqueles considerados em seu meio como boas pessoas. É possível que a causa dessa atitude tenha por origem o nosso egoísmo, os nossos interesses pouco nobres que fazem nos preocuparmos apenas conosco.

Tal comportamento, muitas vezes, está presente tanto na vida dos mais quanto dos menos virtuosos. Quanto às pessoas que não são lá muito boas, de fato não é de se esperar que tratem muito bem os seus próximos. Mas e as pessoas que consideramos mais? Como é estranho quando isso ocorre com alguém por quem tenhamos grande admiração. É o simpático e pró-ativo trabalhador que se mostra completamente impaciente com a mãe ou esposa no telefone. O jovem revolucionário que diz amar os pobres do mundo inteiro mas não ajuda o irmão no dever escolar ou a mãe a lavar uma louça. Ou aquele nosso ótimo amigo que, quando vamos pela primeira vez à sua casa, responde atravessado sua mãe que apenas lhe questionou se ficaria para o almoço. Talvez a discrepância no humor seja a situação mais corriqueira. Quanto bom humor na rua, mas em casa…. Costumamos ficar um tanto chocados quando vemos isso ou quando percebemos que o fazemos. Parece que a boa imagem que tínhamos de nós ou da pessoa em questão se desfaz, e não é verdade que pensamos: “Como foi/fui capaz disso? Isso é muito estranho, fulano é tão bom… Como pode haver tamanha duplicidade?”

E o pior é que de fato devemos mesmo ficar chocados aos nos depararmos com essa situação, e certos de que há algo de muito errado. Há ao menos falta de coerência, duplicidade, e apesar de não sermos especialistas em ética, sabemos que as pessoas devem buscar ser as mesmas sempre e em todos os ambientes por que passam. Falta unidade de vida quando isso ocorre, passamos a representar distintos papéis conforme o ambiente, o que faz com que percamos a paz que a simplicidade e a sinceridade trazem. Mas será que isso é mesmo muito ruim? Afinal de contas, agimos sempre muito bem, somos admirados no trabalho e nas nossas relações de amizade, e só algumas poucas vezes tratamos um pouco mal “os nossos”, que, afinal, nos entendem e não se importam tanto com esse nosso jeito? Não nos enganemos, pois é justamente com as pessoas mais próximas que mostramos como realmente somos por dentro. É com essas pessoas que nos sentimos mais a vontade, e, assim, conseguimos ser mais nós mesmos. É a idéia que está por trás daquele bom e simples conselho que as pessoas mais velhas (ou mais prudentes) costumam dar aos mais jovens: para verificar se o namorado (a) é bom/boa mesmo, veja como trata sua família.

Mas tentemos ir à raiz. O que nos faz agir assim? O que explica tamanha mudança no comportamento ou tendência a tratar menos bem os mais próximos? É possível que o egoísmo seja uma das causas desse comportamento. Esse apego a nós mesmos e aos nossos interesses em detrimento dos outros. Não tratamos bem aos outros porque isso é bom, mas porque temos algum interesse por trás. Se julgássemos não ter nada a perder não sendo tão cordiais com os colegas de trabalho ou superiores, por exemplo, com certeza não os trataríamos melhor que os nossos familiares. Trataríamos sempre muito bem (ou muito mal) a todos, independentemente da proximidade. A verdade é que sabemos que mesmo sendo ríspidos, ingratos, chatos, com os nossos próximos, eles não deixarão de gostar de nós, de nos ajudar. E, assim, quando não há interesse nenhum, nós agimos como uns tolos. E, por outro lado, quanta cortesia e bom humor com outros. É que há muito em jogo, não é mesmo? A boa imagem no grupo, os convites, as notas, o próprio emprego… Mas será que não deveria ser justamente o contrário? Nossas atitudes deveriam se manter retas justamente em situações em que ausente qualquer interesse, naquelas que não temos nada a perder ou ganhar, pois isso demonstraria pureza nas nossas intenções, e que é o bem que nos importa e não os interesses mais ou menos mesquinhos. Trata-se de buscar agir sempre bem independentemente das contrapartidas que possamos ter. Além do mais, tenhamos em conta que “os nossos” são justamente aqueles a quem deveríamos tratar com mais cuidado, pois são aqueles gostam de nós pelo que somos, e que nos deram e dão tudo, tanto bens materiais quanto os bens mais preciosos como a educação…. Sejamos minimamente proporcionais e gratos, e tratemos melhor aos nossos pais, irmãos, familiares e amigos.

Sobre a catarse coletiva brasileira

22 de junho de 2013

Difícil falar de algo que estamos vivenciando e que certamente tem um caráter histórico. Trata-se de um fenômeno multifacetado, nacionalista, massivo, de dimensão continental e  – isto é o mais interessante – totalmente desvinculado de partidos políticos.

O MPL, estopim dos protestos, ontem, de forma surpreendente, retirou o time de campo: Na quarta passada, como o cancelamento do aumento das passagens em Rio e São Paulo, haviam dito: “- A luta continua, companheiro, agora pela reforma agrária, contra o latifúndio urbano (o que vem a ser isso???) e pelo passe livre!”. Ontem, o MPL afirmou que não fará mais convocações de passeatas porque “a causa foi vitoriosa” e condenou a atitude dos manifestantes contrários a militantes políticos, ao mesmo tempo em que promoveu uma clara (e oportunista) aproximação com a imprensa. Na minha opinião, esse pessoal é, se não vinculado, ao menos ideologicamente alinhado com o PT e companhia. Eles perceberam que a coisa saiu completamente do controle deles e, no mesmo dia em que a Dilma faz um discurso à nação, o MPL recua. Isso denota alinhamento com o governo federal.

Fazendo um pouco de teoria da conspiração, (hehe) imagino que o MPL, com conhecimento de Brasília, iniciou o movimento para forçar o repasse das isenções tributárias nos preços dos transportes públicos. Os protestos seriam a justificativa e a desculpa para que os governos locais (como Fernando Haddad, em São Paulo) pudessem forçar uma  negociação com empresários e políticos, fazer alterações e cortes orçamentários etc.

O problema é que o tiro saiu (completamente) pela culatra.

Durante a semana, o caráter apartidário, massivo e pacífico foi ganhando cada vez mais força. Ainda que haja inúmeras bandeiras,  o que me parece ser o verdadeiro motor dos manifestantes, das mais diversas classes sociais, profissões e dos locais mais díspares do Brasil, é a indignação ante anos de corrupção, impunidade, privilégios e fisiologismo político, péssima qualidade dos serviços públicos, impostos altos etc. Tal como em outros países, as redes sociais tiveram um papel fundamental para que isso acontecesse, tendo em vista o seu caráter viral de proliferação das convocações.

Isso explica o total rechaço aos partidos políticos, independentemente da sua coloração. Dilma e seu governo certamente terão forte queda de popularidade.

Enfim, é a catarse coletiva brasileira! Um verdadeiro momento de transformação, que deve ser louvado, desde que mantido o seu caráter pacífico! Mas o importante é dar efetividade a essa catarse, que se reflita nas urnas.

Que os políticos percebam que o Brasil não é o bordel deles!

Homenagem ao Exemplo

27 de maio de 2012

Peço licença aos leitores do blog para falar de uma pessoa muito especial.

No último dia 3, Virginia Rosa Sias, minha avó, finalmente descansou aos 91 anos. Escolheu o mês de Nossa Senhora, de quem era devota, para nos deixar.

Portuguesa, trabalhou desde criança até quase 80 anos, pois Portugal de sua infância era um país pobre e atrasado, que vivia do passado glorioso.

Minha avó era otimista e olhava para frente. “É pra frente que se anda. Quem anda para trás é caranguejo” dizia. Resolveu sair de lá. Turrona, veio de navio sozinha tentar a vida. Adotou o Brasil como país e o Rio de Janeiro como cidade. Adorava o Pão de Açúcar e a praia de Copacabana.

Em uma sociedade hedonista e consumista, minha avó era um delicioso anacronismo. Fazia milagres com seu dinheiro e dava lições de economia doméstica. Singelas, elas continham grande sabedoria: “ganhe 10, gaste 9 e guarde 1. Poupe sempre”.

Tudo que conquistou foi fruto exclusivo do seu esforço, dedicação e mérito. Trabalhou duro. Orgulhava-se de ter sido vendedora da Avon. Nas poucas horas vagas, fazia e vendia peças de tricô.

Nunca compreendeu pessoas preguiçosas. Estranhava movimentos sociais que estão sempre em busca de favores estatais. “Será que acham que dinheiro cai do céu?” sempre me dizia. Era a sua versão do “não existe almoço grátis” do famoso economista Milton Friedman.

Já velhinha, recusava-se a morar com a família. Respeitava a individualidade e a privacidade. “Cada um deve ter a sua vida e seu canto”. Preferia ficar no seu pequeno apartamento, comprado às duras penas com financiamento da Caixa Econômica. Só se rendeu quando não havia mais jeito.

Gostava de novelas, mas se desinteressou nos últimos anos. Segundo ela, só andavam incentivando “sem-vergonhices”. Não há argumentos contra a sua opinião.

Minha avó tinha muito fervor religioso – rezava todos os dias – e era a pessoa mais tolerante que conheci. “Cada um faz o que quer, não é? Se não esta incomodando os outros, ninguém deve se meter” aconselhava. Era moral sem ser moralista.

O que lhe faltava em cultura sobrava em valores morais. Seus ensinamentos eram ricos porque ancorados em uma tradição portuguesa e católica, as mesmas que formaram o nosso país e que vivem sendo questionadas por sociólogos ativistas bobocas.

Pensando nos valores que herdei de minha avó, não tenho como analisar a crise europeia como apenas uma crise econômica. Trata-se de uma crise de valores. Como unir um continente sob uma Constituição sem citar a contribuição do Cristianismo para sua identidade comum?

Defendia que a mulher trabalhasse e não fosse dependente do marido. Era feminista a sua moda, mas ficaria horrorizada com a defesa do aborto. Era do tempo em que se dedicar aos filhos era uma alegria e não um fardo.

Sua única mágoa da vida era não ter estudado. Por isso, valorizava a educação mais que tudo. Esforçou-se à exaustão para que minha mãe tivesse acesso ao conhecimento que ela não teve. Tinha o maior orgulho de sua filha e de seus netos por terem feito faculdade. Quem dera todos os brasileiros tivessem essa preocupação.

O que mais admirava nela era a sua ousadia e obstinação. Com todas as suas limitações, nunca desistia. Em uma época em que certos grupos defendem a eutanásia, minha avó suportou quase 9 meses de CTI com dignidade e bravura. Aliás, como fez com tudo em sua vida.

Deixou para sua família saudades e seu bem mais precioso: o exemplo.

Obrigado Vovó! É uma honra ser seu neto.

Rodrigo Sias é economista

Wes Bentley – Enfrentando seus dragões

10 de abril de 2011

ÉTICA DAS OBRIGAÇÕES VS ÉTICA DAS VIRTUDES

5 de dezembro de 2009

Platão e Aristóteles em Escola de Atenas, de Rafael

O fenômeno atual da codificação da ética decorre especialmente do pensamento de Emanuel Kant que, em sua Crítica da Razão Prática, definiu a moral como conjunto de máximas que podem ser generalizadas. Por isso, muitos pensam que a ética é um conjunto de regras, geralmente previstas em um código deontológico, onde está prescrito aquilo que o indivíduo pode e aquilo que ele não pode fazer.

Entretanto, a origem da Ética das Obrigações remonta ao séc. XIII, especialmente com o pensamento de Guilherme de Ockham, considerado como o representante mais eminente da escola nominalista. Para Ockham, não há nenhuma moralidade intrínseca às ações humanas, sendo ações moralmente boas ou más apenas porque Deus assim o quer. Deus, diz Ockham, poderia ordenar às criaturas que o odiassem, e neste caso odiar a Deus seria bom e meritório. A liberdade apresenta-se como a possibilidade de escolher entre o sim ou o não, pura e simplesmente.

Essa visão acaba reduzindo a ética a uma camisa de força da liberdade humana. Posteriormente surgirão críticas a ética assim conceituada, tal como no Marxismo e o pensamento de Nietzsche, onde os valores morais seriam impostos pelas classes dominantes, uma moral de escravos, construção cultural no tempo e espaço etc. Talvez isso explique a atual crise na moral e nos costumes, eis que, para muitos, “tudo é permitido”.

A proposta da Ética das Virtudes vai num sentido diametralmente oposto.

Calcada no pensamento de Sócrates, Platão e Aristóteles, a Ética das Virtudes ressalta que o homem possui guias internos naturais para a realização do ser. O homem é, por natureza, finalístico. Píndaro, poeta da antiguidade, explicita essa idéia com a máxima “Torna-te o que és”. E a finalidade do agir humano é buscar o ideal de excelência na inteligência, na vontade e na afetividade. O homem é, portanto, um ser in fieri, ou seja, precisa preencher o seu ser de plenitude, e esse preenchimento levará a felicidade.

É no agir humano que o homem torna-se o que é. De certa forma, nos identificamos com o nosso agir, o que poderíamos chamar de efeito feed back. Nenhuma ação pessoal nos é indiferente. Tal como o fogo, que cresce ou se apaga, estamos a cada momento nos aproximando ou nos distanciando do nosso verdadeiro ser, dependo do nosso agir bom ou mal. E a repetição desses atos morais gera um hábito bom ou um hábito mal. O habito bom é o que chamamos de virtude, e o hábito mal, vício. São esses hábitos – como uma segunda natureza – que nos aproximam (virtudes) ou nos afastam (vícios) da verdade e do bem e, portanto, da felicidade.

Assim, vemos que bem, fim e perfeição de certa maneira se confundem. O homem ou é ético ou não é homem.

Não só as corporações devem identificar a sua Missão e a sua Visão, para utilizar uma conceituação empresarial moderna. Também o homem possui uma Missão e uma Visão.

Cabe a cada um descobrir qual é a sua.

Amizade: Quantas pessoas iriam ao seu enterro?

22 de agosto de 2009

Quantas pessoas iriam ao seu enterro? Essa pergunta não deixar de ter o seu lado tétrico, mas pode nos revelar quantos amigos realmente temos. Ontem fizemos um Cine Debate com o filme “Meu melhor amigo”,  uma produção francesa que conta a história de um comerciante de antiguidades que é desafiado a apresentar seu melhor amigo em 10 dias, caso contrário perderá um valioso vaso grego que possui. É dirigido por Patrice Leconte e com Daniel Auteuil no elenco. Num primeiro momento, imaginei que o título fosse Fidélité. Na verdade, Fidélité é o nome da produtora, e o título original é Mon Meilleur Ami. Trata-se, na verdade, de uma feliz coincidência, como pude observar no próprio filme:  um dos personagens, Bruno Bouley, taxista extremamente simpático e serviçal, sofria por ter sido traído por seu melhor amigo, que fugira com a sua esposa. Às vezes, entendemos melhor uma virtude pelo seu oposto, como neste caso. Não são os três “s” (sorridente, simpático, sincero) que fazem uma amizade. Isso no máximo propicia a aproximação do outro a nós, pois nos fazemos amáveis (mas não amados). A verdadeira amizade é, de certa forma, construída e testada na fidelidade do dia a dia. O verdadeiro amigo é fiel, custe o que custar, nas coisas pequenas e grandes. Assim, devemos nos perguntar: quem são aquelas pessoas “fiéis” a mim, que são capazes que se sacrificar por mim, desde comprar um salgado na lanchonete, defender-nos e nos contar quem está falando mal de nós por trás, quebrar um galho no trabalho, ensinar o pulo do gato, até tratar a nossa namorada de maneira respeitosa, e isso tudo de maneira desinteressada? Estas são as minhas verdadeiras amizades.